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Um caminho de mãos vazias

Por Mariana Fidalgo, designer.


"Kara (= vazio) te (= mãos) do (= caminho)


Em 2014 tive dos maiores desafios da minha vida, a nível físico e mental.

Tinha acabado de sair da faculdade, estava desempregada, desanimada, com demasiado tempo livre nas mãos, um vegetal com um diploma na mão. E eis que o meu sensei sugere que participe no Mundial de Karaté que se realizaria no final desse ano.

Não sei como, mas ele achava que eu tinha potencial, apesar de eu ter uma grande aversão a competições. Sempre tentei evitá-las, limitando-me a ser uma praticante de karaté muito pouco confrontacional; excepcional na técnica, mas sem a usar na prática.


Os argumentos do meu sensei (“anda lá, vai ser em Portugal, podes continuar a ir a entrevistas de emprego”, “não há tanta pressão, estás em casa”, “no teu escalão não há muitas competidoras”) e o facto de eu ter dificuldade em dizer “não” a pessoas que respeito, fez com que eu concordasse em participar.


Após meses de muito treino, (e de esperança que por milagre o evento fosse cancelado) chega o dia do evento. Ia competir em 2 categorias: uma em que estava por minha conta, teria “apenas” de demonstrar técnicas coreografadas, de forma mais intensa e perfeita que as minhas adversárias; a outra categoria, em que estava igualmente por minha conta, mas que a qualquer momento poderia levar com um pontapé rotativo na boca do estômago, os combates.


Foi por isso com grande alívio que descobri que, realmente, no meu escalão não havia muitas competidoras. Éramos...duas! Eu e a minha adversária que vinha da longínqua e exótica terra de......Celorico da Beira! Portanto, nas duas categorias, teria de ganhar duas vezes à mesma pessoa, cuja cara não me era estranha dos estágios e encontros nacionais.


E assim, cresceu em mim uma grande vontade de não desiludir o meu sensei, família e colegas, alguns que foram até Almada para assistir ao meu nervosismo em primeira mão. Não os podia deixar mal. Por isso, dei o meu melhor, fechei os olhos em cada soco que dava, com receio do contra-golpe, mas consegui surpreender-me e acabei por vencer as duas categorias.


Um dia em que superei os meus próprios medos, e mandei uma grande c#%&”* às minhas inseguranças. Parece pouco, ganhar a uma adversária, e nunca me considerarei uma campeã mundial. Mas neste caminho de mãos vazias, terminei uma pessoa mais completa."



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